A enxertia acontece através de um processo de causa-efeito mútuo, sendo comum que a influência do cavalo (a planta base) sobre o garfo (o que vai ser enxertado) seja mais pronunciada do que o contrário.
Por oposição a esta dinâmica, na enxertia de encosto, pode dizer-se que esta predominância se anula e as plantas encaram-se horizontalmente, de igual para igual, durante todo o momento de assimilação. Esse nível é quebrado no momento em que uma delas é cortada e perde a conexão à raíz de origem, passando a fazer parte de uma nova planta.


O enxerto de encosto ou approach graft  é feito do seguinte modo: em duas plantas é aberta uma ferida; estas feridas são postas em contacto, encostadas e depois atadas. Este tipo de enxerto pode também acontecer de forma espontânea, por acção do acaso de duas plantas se encostarem naturalmente e sem uma hipótese de crescimento, que não seja na direccção uma da outra. Se a enxertia for bem sucedida, as duas plantas tornam-se numa única e assistimos ao surgimento de uma nova vida. Uma vida que, à semelhança de tantos de nós, cresce em redor da dor ou de pequenas feridas que vão sendo abertas e se tornam veículo de crescimento.

Ao observar este enxerto, não consigo se não pensar na reciprocidade inerente que habita sem esforço nos mecanismos da natureza, na ferida que se torna possibilidade. As plantas unidas por um pedaço de fita, num gesto mútuo que parece querer dizer: eu dou, tu dás, nós somos.







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2022 assimilação, Espaço Pontes, Fundão, PT